quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Design brasileiro aplicado ao figurino

             

Chita é um tipo de tecido com estampas coloridas e padronagens simples, geralmente com temática floral, aplicadas sobre morim. Chita é Brasil, mas veio da Índia. Chita era coisa de pobre, depois virou coisa de cult. Hoje, pra mim, chita é coisa pra gringo ver.

Exemplos de padrões de chita.



Nada contra coisa pra gringo ver. Mas se o objetivo for contribuir com a evolução da nossa "produção cultural" de um modo geral, como é o objetivo desse trabalho, é preciso fazer uma reflexão mais apurada e alçar vôos para além da saia de chita.

Reflexões a quem possa interessar:

              Bom e mau, feio e belo, certo e errado. Tudo varia de acordo com a cultura, dizem. Então, se considerarmos a cultura como produto das relações entre indivíduos e desses com seu meio, além de objetos e idéias produzidos através dessas relações, pode-se considerar o homem como criador de mundos artificiais, com suas características próprias. Mundos que refletem as peculiaridades de cada povo em diferentes épocas, regiões, estados de espírito. Simplificando, nas palavras do antropólogo Roberto daMatta, "cultura é precisamente um estilo, um modo e um jeito de fazer as coisas".
               O autor Renato Ortiz, em seu livro Cultura Brasileira e Identidade Nacional, aponta autores romancistas do início do século XX, como Gilberto Freyre, como responsáveis pela mudança paradigmática do conceito de nacionalidade. A partir da década de 1930 vários setores da produção intelectual pareciam convergir para dar uma "carteira de identidade para o brasileiro", na expressão do próprio Ortiz. Diante de tais fatos surgiram alguns questionamentos: como tradições herdadas de outros países poderiam ter se transformado em manifestações genuinamente nossas? Quais seriam os elementos que conferem brasilidade ao que produzimos? Existiriam tais elementos? Enfim, qual seria o jeito brasileiro de fazer as coisas.
               E não existe um único jeito, a cultura brasileira sempre foi uma mistura de várias formas completamente diferentes de fazer as coisas. Daí vem nossa criatividade, que aliada a um pensamento crítico é capaz de reinventar o design local. Diferentemente da cultura popular folclorizada, a cultura popular como identidade nacional está em constante transformação, sendo de grande importância o trabalho de acompanhar com atenção essas mudanças. Mais que isso, é importante que esses estudos possam ser refletidos na produção de artistas, artesãos e designers, criando uma ponte entre o tradicional e o contemporâneo.

Resumindo, que o trabalho de resgate da cultura popular seja muito mais que manter tradições. E que o contemporâneo seja muito mais uma descoberta do jeito brasileiro de fazer as coisas do que uma simples cópia da cultura alheia.



O ser humano é de fato um ser insatisfeito. São séculos de movimentos que se seguem renegando e resgatando idéias, transformando e ressignificando. Em um contexto pós Revolução Industrial, novas escolas como a Bauhaus e o movimento Arts & Crafts sugerem a valorização do trabalho manual em oposição a industrialização e a massificação.

"Vamos criar uma nova guilda de artesãos, sem a distinção de classes que ergue uma barreira arrogante entre o artesão e o artista"
(Walter Gropius - Manifesto Bauhaus)

Quase personificando esse ideal, Renato Imbroisi viaja pelo Brasil dando consultoria a grupos de artesãos buscando unir práticas tradicionais como bordado, cestaria, etc, ao design contemporâneo.

Fotografias feitas por Bob Toledo especialmente para o livro Desenho de Fibra – Artesanato têxtil no Brasil
Nas images, trabalhos desenvolvidos por artesãos sob a coordenação de Renato Imbroisi. 
No lado direito, são apresentados trabalhos em cestaria, com tramas feitas a partir ds palha de milho. 
No canto direito superior, vê-se um colorido rabalho de crochê. 
Abaixo, têm-se pontos de bordado feitos em tecido de algodão. 

No mundo, vários artistas e designers se perdem e se encontram na dualidade entre design e artesanato.

Mexican Jacket, 1989. Trabalho do artista Mario Rivoli feita a partir de restos de aviamentos 
e objetos encontrados. Camuflados em meio aos botões, fitas e linhas, com um olhar mais 
atento pode-se notar duas figuras humanas, retratando um casal vestindo 
trajes tipicamente mexicanos.






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