quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Sabe aquela do português?

 
Um português e um africano vieram para o Brasil explorar o ouro e no caminho encontraram um índio. Sendo o homem um animal, e sendo da natureza animal o instinto de procriar, procriaram dando origem a cafuzos, mamelucos e cabolcos. Até aqui a escola ensina, mas a reflexão sobre os problemas psicológicos de toda essa mistura fica a cargo dos mais curiosos.
Novos homem. Homens com fortes crises existenciais, que não eram portugueses, nem índios, nem negros. Que ainda não sabiam que eram o POVO BRASILEIRO. Um povo que, com o fim da mineração se acostumou a vida rural se organizando em pequenas vilas de subsistência - que era o povo sertanejo. Que somos nós hoje em dia, vivendo em nossos bairros (embora totalmente diferente).

E o que isso tem a ver com o figurino do Passarinhos? Tem a ver que foi nos primeiros bairros que se organizaram as festas que temos hoje como tradição, onde esse novo povo brasileiro, com sua caldeirada de influências, começou a criar vínculos e desenvolver sua própria cultura.

             Imagine uma cena onde, ainda pequenas, crianças ajudam na construção de figurinos e objetos para uma grande festa na qual toda a cidade está envolvida. Recortando bandeirinhas, memorizando coreografias, aprendendo com os mais velhos o significado de cada detalhe daquela cerimônia. É algo que se vê cada vez menos, e quase inexiste nos grandes centros urbanos, salvo por grupos como os Passarinhos do Cerrado que tentam trazer para o público um pouco de suas raízes através de ritmos, letras e danças. Para tanto, o trabalho de pesquisa é de extrema importância, garantindo que o sentido das tradições não seja perdido e sua essência seja captada e interpretada com clareza. 

Durante minha pesquisa me deparei com o depoimento de um velho caboclo que disse que "o bairro é uma naçãozinha", que queria dizer que nos pequenos bairros se estabeleciam as relações comerciais, afetivas e culturais. E me levou a pensar que talvez por isso as festas tradicionais, hoje em dia, se concentrem em pequenas cidades do interior, onde ainda está vivo esse sentimento de vida em comunidade.
          

             São várias as manifestações da cultura popular que servem de inspiração para o desenvolvimento deste trabalho. Referências que vêm da época da minha própria infância, de imagens que foram se acumulando no subconsciente. Mas para aqueles que pouco conhecem as origens das festas populares, aqui vai um pouco de informação sobre as duas principais e os significados agregados através das roupas:

 A congada é um folguedo de origem afro-brasileira, em homenagem a São Benedito, que representa a luta entre o bem e o mal na visão cristã, através da encenação e de cantos. Em seus primórdios, a festa era uma ferramenta importante usada pelos jesuítas durante a catequisação dos mouros. Os dois grupos são diferenciados pela cor: o bem, que são os cristãos, usam trajes de cor azul; o mal, que são os mouros, usam cor vermelha e um lenço branco amarrado ao pescoço, que simboliza a paz que será firmada entre os dois grupos. Aqueles que representam os soldados utilizam capas coloridas, geralmente com estampas florais e chapéus decorados com penas e miçangas. Outro importante elemento no traje das congadas é o coração: cada congo utiliza o seu de uma maneira diferente, como broches, escapulários e adornando com miçangas, fitas, etc.


                   A imagem mostra uma típica congada de Nossa Senhora do Rosário, no Vale do Paraíba. 
                 (fotógrafo desconhecido)

   As Folias de Reis ou Reisado são outro tipo de festa folclórica, com origem portuguesa, de importante representação cultural. Trata-se de uma comemoração religiosa, onde um grupo de doze peregrinos com trajes especiais andam pelas ruas da cidade cantando versos comemorativos sobre a vinda do menino Jesus. Os principais personagens da festa são: Mestre, também chamado de Alferes da Folia em algumas regiões, que conduz o grupo e puxa os cantos. Ele é responsável por entrar nas casas das pessoas convidando-as a participar da festa e recebendo oferendas (como um café, por exemplo); os contra-mestres são aqueles que auxiliam os trabalhos do mestre, os três reis magos; Palhaços, quase sempre usando máscara, representam os soldados do rei e são responsáveis pela diversão através da dança e interações diversas com quem assiste a folia; e por fim os foliões, que vão a frente carregando bandeiras e protejendo os nobres. De acordo com as descrições dadas por Roberto Corrêa, mestre violeiro, em seu cd Sertão Ponteado, a indumentária é de extrema importância. 

      Folia de Reis da região do nordeste.  A frente, os foliões exibindo sua bandeira.
      (fotógrafo desconhecido)

  O Rei deve usar culotes finalizados com franja, blusa de cetim de manga longa adornadas com espelhos, galões dourados, uma capa dourada de cetim até a altura do joelho, e, como não poderia faltar, uma coroa. O Mestre usa chapéu de palha com uma aba bastante adornada por flores, espelhos, fitas, contas, etc. Usam saias até a altura dos joelhos também adornada por fitas e galões, blusa e uma capa. O Contra-mestre usa o mesmo traje, que deve ser ligeiramente mais discreto, assim como os foliões devem trazer os mesmos elementos porém, menos adornados que o Contra-mestre. O Palhaço pode usar calças remendadas, sapatos de couro, chapéu adornado com fitas, etc.







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